Gente boa gente, salve salve! Cabe informar, principalmente aos compositores, que está lançado o Desafio do Butiquim do PNS para o encontro de 15 de maio de 2011. O tema desta feita é livre, mas as composições, obrigatoriamente, devem ser escritas na forma poética clássica denominada REDONDILHA.
Calma, calma. Não se assustem. Não se trata, pois, de algo absurdamente desconhecido. Ao contrário, mais próximo do que se possa imaginar. Trata-se de poema que quando composto de versos de cinco sílabas dá-se o nome de redondilha menor e aos de sete sílabas, de redondilha maior.
A redondilha foi muito utilizada pelos poetas do Cancioneiro Geral, publicado inicialmente em 1516, uma colecção de poemas reunida pelo escritor eborense Garcia de Resende que inclui obras dos séculos XV e XVI. Os poemas, escritos em sua maioria em português mas também em castelhano, versam sobre os mais variados temas. É o principal repositório de poesia portuguesa da época. A redondilha foi bastante utilizada pelos poetas do Cancioneiro Geral e por Camões.
No cancioneiro popular, a redondilha faz-se presente no repente, no coco, moda de viola, etc. A seguir, algumas das muitas canções escritas sob esta forma poética:
1. SEM COMPROMISSO
(Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro)
Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum Pai-João
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca
Dentro do salão
Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: Não,
Eu agora tenho par
E sai dançando com ele,
Alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis
Aqui, samba sincopado, separamos a letra em duas estrofes e a estruturamos de modo a evidenciar que metricamente os versos são heptassilábicos e pentassílabos (de sete e cinco sílabas). Quanto à intencionalidade do autor... (???)
2. DOCE NA FEIRA
(Jair do Cavaquinho e Altair Costa)
Olha doce ioiô, olha doce iaiá
Vendendo doce na feira (ai, ai, ai)
Eu vi aquela cabocla (ai, ai, ai)
Que há tempos lá na Portela (ai, ai, ai)
Andava de boca em boca
Fez sofrer seus companheiros (ai, ai, ai)
Com as infiéis conquistas (ai, ai, ai)
Tanto fez, que tanto fez
Que acabou se apaixonando
Por um volúvel sambista
Assim que eu vi a cabocla (ai, ai, ai)
Minha voz emudeceu (hum, hum, hum)
Tinha no peito um retrato (ai, ai, ai)
E o retrato era eu
Era eu, era eu, era eu, era eu
Olha doce ioiô, olha doce iaiá
E assim ela dizia
E assim ela dizia
Aqui, samba maxixado, há a predominância dos versos heptassilábico (de sete sílabas). Se intencionalmente ou não... (???)
3. CORAÇÃO DE LUTO
(Teixeirinha)
O maior golpe do mundo
Que eu tive na minha vida
Foi quando com nove anos
Perdi minha mãe querida
Morreu queimada no fogo
Morte triste dolorida
Que fez a minha mãezinha
Dar o adeus da despedida
Vinha vindo da escola
Quando de longe avistei
O rancho que nós morava
Cheio de gente encontrei
Antes que alguém me dissesse
Eu logo imaginei
Que o caso era de morte
Da mãezinha que eu amei
Seguiu num carro de boi
Aquele preto caixão
Ao lado eu ia chorando
A triste separação
Ao chegar no campo santo
Foi maior a exclamação
Cobriram com terra fria
Minha mãe do coração
Dali eu saí chorando
Por mãos de estranhos levado
Mas não levou nem dois meses
No mundo fui atirado
Com a morte da minha mãe
Fiquei desorientado
Com nove anos apenas
Por este mundo jogado
Passei fome, passei frio
Por este mundo perdido
Quando mamãe era viva
Me disse filho querido
Prá não roubar, não matar
Não ferir, sem ser ferido
Descanse em paz minha mãe
Que eu cumprirei seu pedido
O que me resta na mente
Minha mãezinha é teu vulto
Recebas uma oração
Deste filho que é teu fruto
Que dentro do peito traz
Este sentimento oculto
Desde nove anos tenho
O meu coração de luto
Aqui, sertaneja (?), é interessante atentar para a estrutura em seis oitavas (estrofes de oito versos) heptassilábica (versos de sete sílabas). Aqui os indícios de intencionalidade são muito fortes.
BAIÃO
(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Eu vou mostrar prá vocês
Como se dança o baião
Quem quiser aprender
Favor prestar atenção
Morena chegue prá cá
Bem junto ao meu coração
Agora é só me seguir
Que eu vou dançar um baião
Eu já dancei balancê
Chamego, samba e xerém
Mas o baião tem um que
Que as outras danças não tem
Quem quiser é só dizer
Pois eu com satisfação
Danço cantando baião
Eu já dancei no Pará
Toquei sanfona em Belém
Cantei lá no Ceará
E sei o que me convém
Quem quiser é só dizer
Pois eu com satisfação
Danço cantando baião
Aqui, baião clássico, adaptamos dois versos a fim de torná-los mais marcadamente heptassílabo (de sete sílabas) como os demais.
Segundo o portal Snvoong.com[1], a palavra redondilha, de origem espanhola, acabou por se fundir no Português no século XVI. Tomou o significado mais lato (geral) de estância em verso curto , mesmo sendo que o número de versos e a disposição das rimas não eram tão curtas assim. As formas que mais se fixaram foram a heptassilábica (7 sílabas métricas) e a pentassilábica (5 sílabas métricas). Nessa altura, século XVI, apenas se conheciam as tais duas formas de redondilha (ou medida velha ) que divergia da estrofe lírica ou heróica em decassílabo, típica de Itália. Para diferenciar as duas formas de redondilha, atribuiu-se o nome de redondilha perfeita ou arte maior à mais longa (heptassilábica) e de redondilha menor ou arte menor à mais curta (pentassilábica). Um exemplo de redondilha são alguns poemas líricos de Camões, constituídos por um mote e pelas voltas.
De acordo com a Wikipédia[2], a redondilha passa a ser assim denominada a partir do século XVI, o que nos remete ao período das grandes navegações e a consequente Expansão Ibérica. Daí que em se tratando o Brasil um país de colonização portuguesa, catequisado por missões jesuíticas, pode-se perfeitamente inferir que as mesmas utilizaram-se da forma poética redondilha em seu processo de catequização. De outro modo, o que mais explicaria que no cancioneiro brasileiro tal estrutura se faça presente de modo tão marcante, conforme os conhecidíssimos exemplos supra citados.
E para fornecer maiores subsídios para aqueles que forem participar do Desafio do próximo BUTIQUIM do PNS, segue o link do portal Recanto das Letras onde possui didáticos exemplos sobre a forma poética redondilha:
O convite/desafio está feito. Contamos com sua participação!
Saudações Sambísticas!!!