segunda-feira, 30 de junho de 2003

Morre Seu Argemiro do Patrocínio*

Seu Argemiro (à esq.) c/ Seu wilson Moreira

O samba perdeu neste último 22 de Maio o do Patrocínio mais conhecido como seu Argemiro. Ele que nasceu em 28 de junho de 1922, no subúrbio do Rio de Janeiro, descendente de um casal de mineiros, natural de Barbacena, quando jovem integrou na famosa bateria da Portela.

Ao entrar para a Velha Guarda, a convite de Alvaiade, encontrou-se com outro pandeirista emérito, o saudoso Alberto Lonato, com quem formou dupla histórica, pela maneira de tocar o instrumento. Com 56 anos de idade começou a notabilizar-se como compositor. Foi parceiro de Casquinha em “A chuva cai” e “Gorjear da passarada”; com Maia fez “Atenda o apelo” e “Que lugar”; com Alberto Lonato, “A saudade me traz” e a música “Dancei” fez com ele mesmo, “entre tantos outros parceiros”. Teve músicas gravadas por Beth Carvalho, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Marçal, entre outros.

Ele que foi um galante conquistador, dono de uma fina ironia, com o bom humor incansável e elegância natural, antes de dedicar-se exclusivamente a música, exerceu a profissão de ajudante de mecânico de refrigeração e ajudante de laboratório. Trabalhou em uma loja de eletrodomésticos, de onde foi demitido por ter faltado ao trabalho para participar de uma festa na casa de Madalena Xangô de Ouro.

Esse veterano portelense pertenceu durante muitos anos à bateria da escola. Exímio pandeirista, dizia sem modéstia: “No pandeiro, não tenho sucessor dentro da velha guarda. Não há quem bata no pandeiro do meu jeito. Havia bons pandeiristas na Portela: o Neco e o Júlio. Na Velha Guarda, eu e o Alberto fazíamos uma dupla que funcionava como um surdo de marcação e outro de resposta”.

Embora reconheça o mérito e a autenticidade da Velha Guarda, seu Argemiro foi cético em relação ao futuro da Portela: "A Velha Guarda da Portela é a única velha guarda do Rio. Já a Portela, vai de mal a pior. Não tem mais empolgação, Harmonia. É preciso garimpar bons elementos. Há ouro, mas não há garimpeiro”.

No ano passado em 2002, quando comemorou o seu octogésimo aniversário, a obra e a voz aveludada de Argemiro Patrocínio, antes só registradas em ocasiões esporádicas, recebeu finalmente uma justíssima homenagem a seu grande talento, o destaque de uma obra solo.

Sandro Siano
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(*) Fonte: Livro "A velha Guarda da Portela.

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