terça-feira, 18 de outubro de 2005

OPERAÇÃO BALBOA!

Fausto Wolff.

Escravos somos todos, uns mais, outros menos. O brasileiro que come e tem um teto para dormir não se considera escravo. Se lhe tiram o emprego saberá que é escravo da miséria, da humilhação, da autopiedade e, com algum talento, lhe sobrará o crime como alternativa. Quase uma quinta parte dos brasileiros é vítima da fatalidade: nasceu do esperma errado, longe dos grandes centros, sem nenhuma condição de se desenvolver. Pouco acima estão os escravos urbanos: mendigos, flanelinhas, caixas de supermercados. Em seguida vêm os escravos classe média baixa, motoristas, garçons, bancários; e os escravos da classe média alta, prestadores de serviço com nível universitário e pequenos empresários.

Finalmente, 1% da população que nos escraviza mas que também é escrava da fatalidade - caso contrário, o que seria dos seqüestradores?
Toda essa macacada mentindo, traindo, bajulando, roubando, sofrendo, obedecendo sem saber bem qual o seu objetivo, além daquele de continuar em movimento.
Macaqueamos os Estados Unidos sem jamais olhar para a América Latina. Sabemos a marca do desodorante íntimo de Madonna mas desconhecemos o nome de qualquer grande artista latino-americano. A América sempre foi a nossa Meca.

Agora, porém, ela está se transformando no grande império neoliberal, que é o mesmo escravagismo feudal com novo nome. Os americanos adotaram a pax romana: invadem, desculturalizam e colonizam. Definitivamente. O americano médio é igualzinho ao brasileiro médio, mas tem casa, comida, saúde, educação, aposentadoria. O americano médio é até mais burrinho que o brasileiro, pois acredita-se o umbigo do mundo e não vê razão para conhecer a história de loosers, ou seja, de países onde pessoas usam turbantes na cabeça, têm pele cor de barro ou olhos puxados. Nosso racismo, entretanto, abrange os pobres em geral. Nos Estados Unidos matam os negros (a grande maioria de pobres desempregados) com ciclones e terremotos, que preferem guetos e favelas, ou com drogas, como fez há anos o FBI, ao distribuir toneladas de cocaína em todos os cortiços negros do país. Em compensação, os republicanos chamam para cargos importantes (mas sem poder de decisão) os negros que se destacam na corrida com os brancos, embora tenham de correr muito mais. Colin Powell e Condoleeza Rice são apenas dois dos muitos exemplos.

Bush e seus tycoons estão como o diabo gosta. O mundo se neoliberalizou, a China ficará para o futuro, a Rússia virou um lupanar, a América do Sul, com o Brasil à frente, está bem-comportada e paga juros sobre juros. Mas tem uma pedra dentro do sapato de Bush. Chama-se Hugo Chávez. Poucas pessoas sabem, mas o presidente da Venezuela doou milhões de dólares para o governo da Louisiana e para a Cruz Vermelha de Nova Orleans. Os miseráveis que Bush ignorou foram auxiliados por Chávez.

Depois disso este homem, que se destaca entre os poucos estadistas de vulto, esteve nas Nações Unidas e declarou que a casa está se tornando uma filial do Pentágono e que seu modelo se exauriu. Pediu ainda a mudança da sede para uma cidade realmente internacional, com soberania própria.

Leitores, devemos rezar para nossos deuses para que Chávez não sofra um acidente, pois o psicopata que manda no mundo não quer outra Cuba e, principalmente, uma Cuba com petróleo. A Venezuela acabou de alfabetizar o último milhão e meio de analfabetos num país de 25 milhões de habitantes. Três milhões de venezuelanos excluídos pela pobreza agora cursam primeiro e segundo graus.

Dezessete milhões têm acesso à medicina gratuita e de boa qualidade. Milhões de quilos de comida subsidiada são transferidos para metade da população. Foram criados 700 mil novos empregos, reduzindo em 9% o desemprego.

É por isso, e só por isso, que os Estados Unidos vão invadir a Venezuela. Antes que ela contamine toda a América Latina com sua alegria que não se dobra.

Para tanto já estão realizando manobras na vizinha ilha de Curaçao. A operação chama-se Balboa, o nome que Stallone adotou para o boxeur de seu primeiro filme que depois tornou-se um ícone ianque, uma mentira, enfim. Como não tinham um campeão branco, inventaram um no cinema.

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